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Um estudo recente da Pew constatou que 30% dos adolescentes norte-americanos (entre 12 e 17 anos) compartilhavam suas senhas com amigos e namorados. Aqui no Brasil, apesar de não ter havido nenhuma pesquisa específica sobre o assunto, existe uma boa porcentagem de casais que trocam senhas.
Em uma pesquisa rápida no meu próprio Facebook, que levou menos de cinco minutos, encontrei cerca de seis casais que dividem senhas de e-mails, redes sociais e outros serviços. O interessante é que, diferente do que sugere o estudo norte-americano, os pombinhos brasileiros que partilham as informações são casados ou noivos, e tem mais de 24 anos.
Em alguns casos, o compartilhamento das senhas é bastante positivo e não gera confusões. A jornalista de tecnologia Stella Dauer, de 26 anos, e o noivo Ricardo Sato, dividem senhas de absolutamente tudo e, se antigamente esta ação era para conferir segurança ao casal, hoje é pela praticidade do convívio.
"Na verdade, para nós é super útil, porque um pode resolver problemas para o outro quando não temos acesso ao computador. Com a minha senha dos clubes de compra, ele pode imprimir vouchers quando não estou em casa, por exemplo. Também dividimos a conta da Amazon, assim os dois têm acesso aos mesmos livros, o que economiza bastante", comenta.
Já Vivian Leite, estudante de administração, de 24 anos, não teve a mesma sorte com o antigo namorado. Desde o início do relacionamento o objetivo da divisão de senhas era bisbilhotar, já que ambos eram bastante ciumentos e não admitiam qualquer deslize. Com este alto grau de espionagem, não deu outra, Vivian encontrou uma conversa do ex com uma garota desconhecida e não gostou nada, nada.
O fim desta história foi a pior: a estudante e o namorado brigaram por diversas horas e ele não teve argumentos suficientes para convencê-la de que aquela conversa não significava nada para ele. Os dois terminaram o relacionamento de 1,5 ano e tiveram que mudar suas senhas rapidamente.
Na outra ponta, a jornalista Mariana Von Glehn Paes, de 27 anos, compartilha apenas a senha do banco com o marido, e acha um absurdo a falta de privacidade que os casais se permitem com a troca de dados de outros serviços, como e-mails e redes sociais. Ela e o companheiro sempre riram juntos desta ideia e dividem a mesma opinião: é preciso individualidade para o relacionamento funcionar.
"Se você confia na pessoa e se sente segura no relacionamento não tem pra quê pedir a senha. Para mim é como se ele saisse comigo e minhas amigas e ficasse escutando nosso papo. Não rola", brinca.
Mariana ainda acredita que nesta troca de senhas, o casal acaba expondo alguns amigos e seus segredos também, e isso não é legal. Ainda existe o quesito segurança, que poucas pessoas se lembram. Ao compartilhar uma senha, a pessoa corre o risco de ter seus dados roubados, caso o companheiro sofra um ataque hacker ou esteja com um vírus na máquina.
Por dentro da mente
A face psicológica desta história também tem diversos lados a serem analisados. De acordo com a psicóloga Andrea Jotta, do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da PUC- SP, é normal os casais se adequarem à tecnologia, criando regras dentro do relaciomento, especialmente quando é necessário estabelecer algo mais prático, como dividir um único e-mail fornecido pelo provedor de internet da casa.
No entanto, segundo Andrea, é comum também acontecer a simbiose (mistura) do casal, especialmente na adolescência. Nesta fase de fusão, um dos dois, ou os dois, podem se sentir traídos pela individualidade da outra pessoa. A falta de maturidade faz com que eles não entendam o quão saudável é para a relação que cada um tenha seu espaço, seja virtual ou real.
"Ter amigos e fantasias individuais é essencial, pois ninguém consegue viver na simbiose eternamente e acaba criando um lado B, como um perfil alternativo na rede, email ou encontros escondidos - o que acaba gerando mais problemas quando descobertos. Conforme a pessoa vai crescendo ou o relacionamento vai amadurecendo, você se sente menos ameaçado por aquela individualidade do companheiro e a relação flui melhor", sugere.
A psicóloga ainda lembra que esta individualidade é mais latente nos homens, e o próprio estudo da Pew comprova isso. A pesquisa constatou que a probabilidade de uma menina revelar sua senha é quase duas vezes maior do que a de um menino fazê-lo.
Fonte: Olhar digital
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